A romantização da sobrecarga e exaustão

Colunistas Nas entrelinhas - Por João Lucas Siqueira Últimas notícias

Bote uma coisa na sua cabeça: você não é uma máquina.

Vivemos em uma era que a exaustão virou símbolo de status. Estar cansado deixou de ser um sinal de sobrecarga para se tornar um atestado de mérito. A cultura da alta produtividade nos ensina que estar sempre ocupado é sinônimo de sucesso, como se o descanso fosse um luxo e não uma necessidade básica.

Por trás dessa lógica, há uma estrutura bem montada. Uma engrenagem que lucra com o nosso cansaço e com a nossa culpa. A ideia de que basta esforço, foco e disciplina para alcançar tudo o que se quer é uma falácia cuidadosamente propagada. A meritocracia, nesse contexto, não passa de um mito funcional, feito para nos manter correndo atrás de algo inalcançável, culpando a nós mesmos quando falhamos.

Enquanto slogans como “Just do it” vendem a ilusão de que basta querer muito para vencer, questões como desigualdade, contexto e estrutura são deixadas de lado. Como se todos largassem da mesma linha de partida. Como se força de vontade fosse suficiente. Mas a verdade é que não somos uma máquina. Nem uma linha de produção viva. Sentimos, cansamos, adoecemos e desaceleramos. Reivindicar o direito ao descanso, ao ócio, à pausa, é também uma forma de resistência. Porque numa sociedade que lucra com a sua exaustão, cuidar de si é um ato político.

Gostaria de lembrar mais uma vez: você não é uma máquina.

As opiniões expressas nesta matéria são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem, necessariamente, a posição editorial deste jornal.

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